Língua e Literatura Alemã

O Programa de Pós-Graduação em Letras (Língua e Literatura Alemã) foi criado em 1971. Ainda antes da fundação foram defendidas teses na área de literatura alemã por Sylvia Barbosa Ferraz (1950) e Erwin Theodor Rosenthal (1953), ambos sobre autores medievais e orientados por Pedro de Almeida Moura; os primeiros doutorados dedicados a temas da língua alemã foram defendidos em 1972 por Ruth Mayer e Sidney Camargo. Desde o início, o programa incluiu os dois cursos, Mestrado e Doutorado, e continua sendo o único programa do Brasil dedicado exclusivamente à língua e literatura alemã, contando geralmente entre 12 e 14 orientadores plenos. Na sua maioria, os docentes eram, ao mesmo tempo, professores da área didática de alemão do Departamento de Letras Modernas. Nos últimos anos, foram credenciados também alguns professores de outras universidades, da UNICAMP, da UNESP e da UFRJ.

Entre os professores e pesquisadores importantes do programa encontram-se Erwin Theodor Rosenthal (1926-2016) que foi professor titular desde 1964 e desde 1986 membro da Academia Paulista de Letras. Suas amplas pesquisas incluíram Georg Büchner, Georg Hauptmann e Carl Philipp von Martius. Foi seguido como titular por Stefan Wilhelm (Willi) Bolle cujos campos de trabalho são Walter Benjamin, João Guimarães Rosa e a literatura do Amazonas. João Azenha Junior, também professor titular, fez contribuições importantes para a teoria da tradução e a integração estudos da tradução nos programas de pós-graduação de Letras. Uma tradutora importante de literatura alemã é a professora Irene Aron. Um dos intérpretes de mais destaque do alemão e do inglês é George Bernard Sperber.

Nos 53 anos da existência do Programa foram formados 172 Mestres e 91 Doutores que contribuíram, com sua expertise, em diversos ambientes profissionais do país. Muitos deles atuaram e atuam em universidades brasileiras que oferecem a graduação em Letras / Alemão. Muitos dos egressos ocupam cargos na UNESP de Araraquara e de Assis, na UNICAMP, nas FATEC/SP, nas universidades federais (UFPR, UFRJ, UFF, UFBA, UFMG, UFPB, UFPA, UFSE, UFSC, UFU), em universidades estaduais (UERJ, UEMaringá). Escolas alemãs como o Colégio Porto Seguro, Colégio Humboldt, Colégio Imperatriz Leopoldina e o Instituto Goethe sempre contrataram muitos egressos dos cursos do programa. Existe também um grande número de tradutores técnicos, jurídicos e literários que receberam sua formação no programa ou na especialização em tradução que foi mantida durante muitos anos.

Muitos trabalhos foram premiados. Teses de doutorado que receberam prêmios nos últimos anos eram: Matheus J. Barreto, Menção Honrosa no Prêmio Tese Destaque USP 2023 e Prêmio Dirce Cortês Riedel 2023 (ABRALIC) para seu trabalho “Ritmo & Tradução: a configuração rítmica na tradução de dez textos literários de língua alemã”; Elaine Roschel Nunes, Menção honrosa no Prêmio tese destaque USP 2022 e Prêmio Luiz Antônio Marcuschi 2023 (ANPOLL) para sua tese “Entre ‘becos sem saídas’ e ‘pulo de gato’: Criatividade local e mentoria na formação inicial de professoras/es de alemão no Brasil”; Sâmella Michelly Freitas Russo, Menção honrosa do Prêmio Tese Destaque USP 2021 para sua tese “A escrita e os diários: a luta pelo reconhecimento da singularidade de Franz Kafka”.

Atualmente (1/2025) o programa conta com 43 estudantes e 12 orientadores plenos, dos quais dois são bolsistas do CNPq (Bolsa de produtividade em pesquisa), uma foi bolsista da Fundação Alexander von Humboldt, uma recebeu o prêmio Jacob- und Wilhelm Grimm Förderpreis para jovens germanistas do DAAD (2021). Todos docentes ativos no programa e muitos alunos realizaram estágios de pesquisa no esterior, seja na Alemanha, na Áustria ou na Suiça.

O programa se organiza em duas Linhas de Pesquisa: 1) Estudos de Literatura, Cultura e Tradução e 2) Alemão como Língua Estrangeira (ALE), Linguística e Tradução. Essas linhas albergam 15 projetos específicos dedicados a um amplo leque de temas, da literatura medieval até a tradução de poesia e do uso de tecnologias no ensino de línguas à análise de discurso. Um projeto ambicioso em colaboração com Universidade de Leipzig inclui vários colegas e discentes do programa tratava da prosódia do Alemão e do Português Brasileiro em perspectiva comparativa. Recebeu apoio da CAPES e do DAAD via programa PROBRAL durante 4 anos e permitiu estágios de intercâmbio de vários doutorandos e pós-docs. A cooperação com Leipzig continuou em um projeto financiado pela Fundação Alexander von Humboldt. Outro projeto tem como objetivo a criação de um livro didático do alemão para o Brasil. Título do projeto e do livro planejado é Zeitgeist. Além de docentes do programa, participam vários colegas de outras universidades nacionais. Uma colega já aposentada, mas ativa na pós-graduação coordena um projeto sobre “Literatura Brasileira de expressão alemã” desde 2006 do qual participam vários professores de outras universidades.

Como resultado do projeto PROBRAL, saiu uma publicação na editora Metzler em 2024: Galle, Nowinska, Hermann, Reichmann (Org.): Sprache – Klang – Diktion. Deutsch-brasilianische Perspektiven. Outras publicações destacadas dos docentes são Arantes, Uphoff (Org.): Ensinar Alemão em Tempos de (Pós-)Pandemia (2022); Perez, Krausz (Org.): Übergänge: Mitteleuropa im Werk jüdischer Autoren (2020); Perez, Reichmann (Org.): A Rosa Branca, de Inge Scholl (2014, 2ª reimpr. 2020); Galle, Perez, Pereira (Org.): Ficcionalidade: uma prática cultural e seus contextos (2018); Erdem, Perez, Tavares (Org.): Stefan Zweig. Das Exil-Projekt (2019); Gottschalk, Oliveira, Azize (Org.): The Epistemology of Language Use – Wittgenstein and a Philosophical Pragmatics (2025).

Muitos colegas do programa traduziram obras relevantes da literatura em língua alemã. Irene Aron traduziu livros de Alfred Döblin, Bertolt Brecht, Max Frisch, Günter Grass, Peter Handke, Georg Büchner, Ruth Klüger e Viktor Klemperer. Traduções de Brecht, Büchner, Ernst Jünger, Rilke e Goethe são de autoria de Tercio Redondo. Um ex-doutorando do programa, Felipe Vale da Silva realizou traduções de Goethe, Schiller, Novalis e a obra dramática de Friedrich Hebbel, sendo premiado pelo prêmio da ABEG para esse trabalho. Um equipe sob coordenação de Willi Bolle traduziu Passagens, obra póstuma de Walter Benjamin.

Através de convênios com as agências de intercâmbio da Alemanha (DAAD) e da Áustria, o programa recebe uma série de professores visitantes que lecionaram e pesquisaram na FFLCH em períodos de até 5 anos. Todos tiveram formação universitária excelente (doutorado ou até livre-docência), e contribuíram substancialmente para o desenvolvimento do programa. Destaque especial merecem: Robert Menasse que é hoje um dos romancistas austríacos mais famosos e escreveu seu primeiro livro sobre sua experiência na Universidade de São Paulo (Sinnliche Gewißheit, 1988; A certeza sensível, 1988). Ulrich J. Beil é um poeta lírico eminente e atuou, além da FFLCH, em universidades da Suíça e do Japão. Hardarik Blühdorn atua como pesquisador no Institut für Deutsche Sprache em Mannheim.

O programa é reconhecido e respeitado internacionalmente como um centro de formação em estudos germanísticos. A Universidade de Leipzig, a Universidade de Münster, a Universidade Humboldt de Berlim, a Universidade Mainz/Germersheim, a Universidade de Viena e a Universidade de Berna estão entre as que mantêm vínculos mais estreitos com os docentes e alunos do Programa.

Uma conquista muito importante foi a criação de Pandaemonium Germanicum. Revista de estudos germanísticos realizada por Hardarik Blühdorn, Masa Nomura, Willi Bolle e Eloá Heise em 1997. A revista está registrada na plataforma Scielo, recebeu a classificação mais alta da CAPES (Qualis A1) e chegou a 53 números até final de 2024, estando indexada nas mais importantes plataformas. É a publicação acadêmica relacionada ao idioma alemão mais antiga e contínua do Brasil sobre assuntos de literatura, cultura, língua e tradução. A revista recebe submissões de outros países latino-americanos, da Europa e da África.

Por iniciativa de colegas da USP foi criado, em 2013, a Associação Brasileira de Estudos Germanísticos (ABEG). A primeira presidência da ABEG foi formada por professores do programa e essa equipe organizou o primeiro congresso da associação em 2015 em São Paulo.

Muitas informações adicionais sobre a história do programa e as atividades dos seus docentes encontram-se no livro 75 anos de alemão na USP. Reflexões sobre uma germanística brasileira (2015). (https://www.livrosabertos.abcd.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/book/426)