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Frequentemente se compreende como pós-graduação o aprofundamento do curso universitário com a “conquista de títulos de mestrado, doutorado e posteriormente pós-doutorado” (Motoyama, 2004, p.23) que iniciou seu processo de institucionalização na Universidade de São Paulo em 1969. Contudo, ainda que inscrita numa organização institucional sensivelmente distinta da atual, a Universidade forma os seus primeiros doutores já na década de 1940. À exceção de títulos de Doutor obtidos na Faculdade de Direito, a 1ª tese de doutoramento defendida na USP foi a de Simão Mathias, em 1942, na subseção de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras - FFCL (Motoyama, 2004, p.25; Senise, 2006, p.37), em um período no qual o grau de Mestre inexistia na Universidade.

No interior da FFCL, unidade criada em 25 de janeiro de 1934, junto à Universidade, como uma instância capacitada a articular os múltiplos campos do conhecimento, foi produzida uma multiplicidade de teses de doutoramento entre 1942 e 1969 por destacados cientistas e intelectuais. No que concerne às “humanidades", nesse período foram defendidos, por exemplo, os doutorados de Eurípedes Simões de Paula (1942), Florestan Fernandes (1951), José Arthur Giannotti (1953), Aziz Ab’Saber (1956), Alfredo Bosi (1964), entre outros.

Foi apenas em 1969, portanto, a partir da aprovação de um novo Estatuto da Universidade de São Paulo, que a pós-graduação é reorganizada e adquire a sua forma atual, dividida em dois níveis de formação: mestrado e doutorado (USP, 1969). Sob a vigência do Estatuto retromencionado, em janeiro de 1970 a FFCL é dissolvida, sancionando a criação dos Institutos Básicos e da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - FFLCH, e o antigo Sistema de Cátedras é substituído pelo atual Sistema Departamental. Essas profundas transformações institucionais concederam abertura para a criação dos Programas de Pós-Graduação da FFLCH ao longo da década de 1970, alterando, de maneira decisiva, a configuração dos cursos (ver USP FFLCH, 2021, 1h35min; ver Prandi, 2017, 30min). Essas mudanças não ocorreram somente na dimensão organizacional e institucional, tampouco se limitaram à década de 70 do século XX. Sergio Miceli Pessôa de Barros, Professor Emérito do Departamento de Sociologia da FFLCH-USP, que experienciou tais metamorfoses na pós-graduação, destaca, entre outras coisas, a elevada exigência imposta pelos Programas de Pós-Graduação sobre os seus candidatos atualmente em comparação com o passado, acentuando o alto grau de especialização nos dias de hoje (USP FFLCH, 2021, 1h49min).

Em vista dessas considerações, o Projeto 90 anos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, com o objetivo de difundir a produção acadêmica da Faculdade e produzir materiais sobre a história e o estabelecimento dos programas de pós-graduação para um público mais amplo, estabelece uma colaboração com os departamentos da Faculdade. O conteúdo desse trabalho em comum foi realizado pelos coordenadores responsáveis pelos programas hoje disponíveis e será atualizado conforme a disponibilização pelos departamentos.