1. Histórico
Pensar na história do Programa de Mestrado Profissional em Letras em Rede Nacional (ProfLetras) na USP, e mais especificamente na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, é trazer à memória o trabalho árduo de muitos colegas que, em sua resiliência e grande vontade de contribuir com um ensino público de qualidade na educação básica, não pouparam esforços para que nossa Faculdade pudesse tomar parte de um projeto nacional, cujo objetivo era participar ativamente da formação continuada de professores de Língua Portuguesa das escolas públicas brasileiras. Além disso, também nos faz lembrar dos vários discentes-professores que, com muita dedicação e esforço, passaram pelos bancos de nossa Faculdade.
O ProfLetras, como Programa de Pós-Graduação Nacional, foi colocado em funcionamento em 2013, no âmbito Programa de Mestrado Profissional para Qualificação de Professores da Rede Pública de Educação Básica (PROEB), tendo sido reconhecido pela Portaria 1.009, de 10 de outubro de 2013. Já na submissão da proposta do novo curso (2012), cuja sede foi alocada Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a USP estava inserida como um dos polos de oferecimento do curso. Nesse documento figuram os nomes dos seguintes docentes: Elis de Almeida Cardoso Caretta, Émerson da Cruz Inácio, José Nicolau Gregorin Filho, Marcelo Módolo (que não permaneceu no Programa), Maria Helena da Nóbrega, Mariângela de Araújo, Sheila Vieira de Camargo Grillo, Vima Lia de Rossi Martin e Zilda Gaspar Oliveira de Aquino.
Dois foram os docentes que mais enveredaram esforços para que a FFLCH-USP, e mais especificamente o Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas (DLCV), pudesse assumir um dos polos do ProfLetras: a Profa. Dra. Elis de Almeida Cardoso Caretta e o Prof. Dr. José Nicolau Gregorin (in memoriam). Foram esses dois queridos colegas que se responsabilizaram pela preparação de toda a documentação necessária, por reunir colegas que se interessavam pelo ensino básico e por encaminhar a aprovação do Programa no âmbito da Departamento, da Faculdade e da Universidade. A Profa. Elis até hoje atua no Programa, mesmo já aposentada, orientando, oferecendo disciplinas, organizando eventos e publicações. O Prof. José Nicolau, figura muito presente em nossas melhores lembranças, atuou intensamente no Programa em seus três primeiros anos de existência, levando à defesa três dissertações bastante relevantes que abordaram a formação do leitor literário nas aulas de Língua Portuguesa.
No que diz respeito à coordenação do Programa, em âmbito nacional, tivemos duas coordenadoras as Profas. Dras. Maria das Graças Soares Rodrigues (2013-2015) e Maria da Penha Casado Alves (2015-atual). Formaram também parte da gestão nacional, como coordenadores adjuntos: Profa. Dra. Neusa Salim Miranda (2015-2018), Profa. Dra. Luiza Helena Oliveira da Silva (2018-2020), Prof. Dr. Acir Mário Karwoski (2021-2023). Atualmente é coordenador adjunto nacional do Programa o Prof. Dr. Gerson Rodrigues da Silva.
Na USP, a primeira coordenadora local foi a Profa. Dra. Maria Inês Batista Campos Noel Ribeiro, tendo como vice-coordenadora a Profa. Dra. Elis Cardoso de Almeida Cardoso Caretta, no biênio 2013-2015. A mesma chapa conduziu o Programa no biênio 2017-2018, mas desta vez com a Profa. Elis como coordenadora. A Profa. Maria Inês voltou a coordenar o Programa no biênio 2018-2020. Também foram coordenadoras do Programa a Profa. Dra. Zilda Gaspar Oliveira de Aquino (2015-2017), com a vice-coordenação da Profa. Dra. Neide Luzia de Rezende, e a Profa. Dra. Valéria Gil Condé (2020-2022), com a vice-coordenação da Profa. Dra. Beatriz Daruj Gil.
Atualmente, a gestão do Programa na USP está sob a coordenação da Profa. Dra. Mariângela de Araújo, tendo como vice-coordenador o Prof. Dr. Phablo Roberto Marchis Fachin. Ambos assumiram a gestão em 2022 e foram reconduzidos em 2024, devendo permanecer na função até março de 2026.
Durante todo esse período, passaram pelo Programa 20 docentes, que atuaram tanto na orientação quanto na docência. Além de docentes do DLCV, foram credenciados no Programa também orientadores de outros departamentos da USP e de outras universidades: Profa. Dra. Neide Luzia de Rezende (Departamento de Metodologia do Ensino e Educação Comparada – Faculdade de Educação); Profa. Dra. Ana Lúcia Tinoco Cabral (UNICID); Profa. Dra. Maria Auxiliadora Fontana Baseio (UNISA).
No quadro atual de docentes do Programa, contamos com 8 orientadores do DLCV: Profa. Dra. Beatriz Daruj Gil; Profa. Dra. Elis de Almeida Cardoso Caretta; Prof. Dr. Manoel Mourivaldo Santiago Almeida; Profa. Dra. Mariângela de Araújo; Profa. Dra. Norma Seltzer Goldstein; Prof. Dr. Phablo Roberto Marchis Fachin; Profa. Dra. Valéria Gil Condé; Profa. Dra. Vima Lia de Rossi Martin. Além desses colegas, contamos com a Profa. Dra. Andrea Saad Hossne, do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada, e com dois outros docentes advindos de outras instituições: Profa. Dra. Ana Elvira Luciano Gebara (UNICID/FGV) e Prof. Dr. Sandro Luís da Silva (Universidade Federal de São Paulo).
2. Contribuições Acadêmico-Científicas
No momento da criação do ProfLetras, foi estabelecido que o Programa seria destinado a professores atuantes no ensino público brasileiro, concursados, e que tivessem a licenciatura em Letras, com habilitação em Língua Portuguesa. Segundo a proposta de criação do curso, o ProfLetras teria como meta ampla:
O empoderamento dos docentes de valor pedagógico agregado em linguagem, com vistas ao enriquecimento e à eficácia em práticas
profissionais, de tal modo que o PROFLETRAS, em nível nacional, venha a promover:
(i) o aumento do nível de qualidade de ensino dos alunos do Ensino Fundamental, com vistas a efetivar a desejada curva ascendente quanto à proficiência desses alunos no que se refere às habilidades de leitura e de escrita;
(ii) o declínio das atuais taxas de evasão dos alunos durante o percurso do Ensino Fundamental na Escola brasileira;
(iii) o multiletramento exigido no mundo globalizado com a presença da web pressuposta;
(v) uma atitude pró-ativa dos professores em relação aos alunos com graus distintos de atipicidade;
(v) o desenvolvimento de pedagogias que efetivem a proficiência em letramentos, compatível aos nove anos cursados durante o Ensino Fundamental.
(Proposta de Curso Novo: ProfLetras, 2012)
Desse modo, os profissionais que nele se matriculassem deveriam, além de cumprir 24 créditos em disciplinas, desenvolver uma pesquisa de natureza interpretativa e interventiva, tendo como tema um problema da realidade escolar e/ou da sala de aula no que concerne ao ensino e aprendizagem na disciplina de Língua Portuguesa. Os projetos de docentes e as pesquisas dos discentes do Programa deveriam ser desenvolvidos na Área de Concentração “Linguagens e Letramentos”, constituída, até 2019, pelas linhas de pesquisa “Teorias da Linguagem e Ensino” e “Leitura e Produção Textual: diversidade social e práticas docentes”. Em 2019, o Programa passou por uma reestruturação e passou a contar com duas novas linhas de pesquisa: “Estudos da Linguagem e Práticas Sociais” e “Estudos Literários”.
Durante sua trajetória o ProfLetras, foi também ampliando seu público-alvo, de forma a chegar a atender às diferentes demandas do ensino básico. Atualmente, além de professores concursados, o ProfLetras recebe também professores contratados e, a partir de 2025, atenderá os profissionais atuantes no componente curricular de Língua Portuguesa de qualquer série da Educação Básica.
Referentemente ao polo mantido na USP, ao longo desses quase 14 anos de existência, o ProfLetras já titulou 65 mestres. A maior parte desses egressos continua atuando no ensino básico e muitos tornam-se multiplicadores dos saberes que adquiriram na Universidade, trabalhando em coordenações, na produção de materiais didáticos e na formação continuada de professores.
Alguns de nossos egressos permaneceram na vida acadêmica, desenvolvendo pesquisas de doutorado. Daqueles que enveredaram para a pesquisa acadêmica, três já são doutores: Fernando Januário Pimenta; Lígia Fabiana de Souza Silva; e Dafne Rodrigues Alvares de Castro. O egresso Fernando Januário Pimenta é hoje docente da USP, no Departamento de Línguas Orientais. Assim, constatamos que o ProfLetras-USP, além de contribuir para a formação dos professores do ensino básico, tem sido também uma porta de acesso à Universidade a talentosos pesquisadores.
No que diz respeito aos egressos que continuam no ensino básico, muitos receberam prêmios por sua pesquisa ou por sua atuação como professores. Dentre eles destacamos O Prof. Me. Daniel Carvalho de Almeida, que, em 2014, 2015 e 2016, recebeu o Prêmio Paulo Freire de Qualidade de Ensino Municipal (São Paulo), a Profa. Ma. Luciana Taraborelli, que, em 2019, recebeu o Prêmio Vídeo Pós-Graduação USP 2019, com a pesquisa "Leitura e escrita de poemas no Ensino Fundamental - anos finais", na área de Linguística, Letras e Artes, a Profa. Ma. Vanessa dos Santos Araujo, que, em 2020, foi finalista da 23ª Edição do Prêmio Educador Nota 10 e o Prof. Me. Adriano Donizeti Domingos do Nascimento, que, em 2023, foi homenageado pela Câmara Municipal de São José do Rio Pardo com o Prêmio Paulo Freire, na categoria Profissional da Educação.
Além dos prêmios, as pesquisas de nossos egressos têm chamado a atenção da mídia impressa e audiovisual. O Prof. Me. Daniel Carvalho de Almeida concedeu entrevistas, em 29 de abril de 2016, ao Jornal da USP, e, em 13 de junho de 2016, à TV Câmara São Paulo. As entrevistas foram sobre os resultados de sua dissertação intitulada “Poesia de resistência na escola pública: compromisso ético e formação de identidade". Também o Prof. Me. Marcelo Aglio concedeu, em 20 de fevereiro de 2020, uma entrevista ao Jornal da USP; sua dissertação de mestrado teve como título “Tecnologia digital como recurso de aprendizagem de língua portuguesa no ensino fundamental: o programa 'Aventuras Currículo+'". Em setembro de 2022, a Revista Qual é publicou a reportagem “Concurso de Crônicas estimula prática da escrita entre estudantes”, sobre a dissertação da Profa. Ma. Paula Rosiska, intitulada “Leitura e escrita de crônicas no ensino fundamental II - anos finais”.
Para finalizar, gostaríamos de também destacar a realização dos Simpósios do ProfLetras-USP, que em duas edições já foi realizado como Seminário Internacional do ProfLetras-USP. Esse Simpósio está em sua quinta edição e reúne os trabalhos de nossos discentes ativos, que são debatidos por egressos e por docentes da USP e de outras instituições. Nas duas edições internacionais, os discentes do Programa puderam ouvir experiências de professores do ensino básico da Espanha. A realização desses eventos tem propiciado um profícuo debate entre docentes, discentes e egressos. Como resultado de sua realização também já temos uma publicação: Professores em diálogo: ProfLetras e educação básica, organizado pelas Profas. Dras. Elis de Almeida Cardoso Caretta, Beatriz Daruj Gil, Valéria Gil Condé e Ana Elvira Luciano Gebara.
- Referências
CARDOSO, Elis de Almeida et al. Professores em diálogo: ProfLetras e educação básica. Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 2023. DOI: https://doi.org/10.11606/9788575064719 Disponível em: www.livrosabertos.abcd.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/book/1130 . Acesso em 27 set. 2024.
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Proposta de novo curso: ProfLetras. Brasília, 2012. Disponível em: https://www2.ufjf.br/profletras/wp-content/uploads/sites/138/2013/07/proposta_8154.pdf. Acesso em: 27 set. 2024.
SANTOS, Marcos Bispo dos. Epistemologia da prática e desenvolvimento profissional no Mestrado Profissional em Letras. In: Soletras. Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística – PPLIN, Faculdade de Formação de Professores da UERJ, n. 35, jan.-jun. 2018.
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