O Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da USP foi inaugurado em 1972, período no qual os cursos de pós-graduação passaram a ser integrados à estrutura universitária. Em 1969, seguindo os princípios da reforma universitária implementada pelo governo federal, a Universidade de São Paulo (USP) teve que se adequar às novas normas para a pós-graduação, quando se extinguiram as cátedras (Lei Federal 5540 de 28/11/1968).
Nessa direção, seguindo a remodelação da pós-graduação que já existia na USP, a proposta de criação do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) foi submetida em 1970 e aprovada em 1972, a partir de uma área de concentração com formação em mestrado e doutorado.
O Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da USP se beneficiou, por um lado, da rica tradição acadêmica e institucional proveniente da extinta Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Por outro lado, sua organização nos moldes da Reforma Universitária, no contexto da repressão política da ditadura militar, foi marcada por dois aspectos centrais: a complexa transição do sistema de cátedra e o afastamento, por motivos políticos, de vários de seus colaboradores. Assim, o processo de adaptação da pós-graduação existente ao modelo estabelecido a partir dos anos 1970 seguiu diferentes ritmos, afetado por sucessivas reformas internas.
Na USP, a formação em Antropologia, assim como em Filosofia, Sociologia, História e Geografia, foi ligada inicialmente à influência da Missão Francesa, da qual fizeram parte, entre outros, Claude Lévi- Strauss e Roger Bastide. Vale notar que Roberto Cardoso de Oliveira, figura central no estabelecimento posterior dos programas do Museu Nacional-UFRJ e da UnB, foi ex-aluno de Filosofia da USP, talvez o curso mais fortemente influenciado pelo padrão francês. Na Antropologia da USP, porém, tradições diversas também tiveram papel importante. Institucionalmente, a Antropologia se estabeleceu na USP com duas cátedras paralelas: Etnografia Brasileira e Língua Tupi-Guarani; criada em 1935; e Antropologia, criada em 1941. A primeira, regida por Plínio Ayrosa, foi extinta em 1962 e substituída pela de Línguas Indígenas do Brasil, já na área de Letras. A cadeira de Antropologia foi ocupada primeiramente por Emílio Willems, formado na Alemanha, que também lecionava na Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Em 1949, Willems foi substituído por seu assistente Egon Schaden, que permaneceu à frente da cátedra até 1967, sendo substituído, já às vésperas da extinção do sistema catedrático, por João Baptista Borges Pereira, que se formou primeiramente na mesma Escola de Sociologia e Política onde estivera Willems. Já a assistente mais antiga de Willems e de Schaden na cátedra, Gioconda Mussolini, falecida em 1969, trabalhara com Herbert Baldus, outro etnólogo de origem alemã, e era responsável pela cadeira de Antropologia no curso noturno, tendo como assistentes Eunice Durham e Ruth Cardoso.
Destas linhagens na cadeira de Antropologia, que seguiam orientações teóricas distintas, emergiram as principais linhas de pesquisa que constituíram o Programa Pós-Graduação em Antropologia Social da USP no formato assumido a partir dos anos 1970. Sob a orientação de Schaden e, posteriormente, de João Baptista Borges Pereira, já sob o novo formato da Reforma Universitária, doutoraram-se pesquisadoras em etnologia indígena, como Thekla Hartman e Lux Vidal, que, por sua vez, orientaram depois Aracy Lopes da Silva, Sylvia Caiuby Novaes e Dominique Gallois. Através da colaboração de João Baptista Borges Pereira com pesquisadores que trabalhavam na área de Sociologia, como Fernando Mourão e Ruy Coelho, também se doutoraram pesquisadores sobre relações raciais e estudos africanos, como Kabengele Munanga, Teófilo de Queiroz Jr. e Carlos Serrano, cada qual com distintos percursos acadêmicos.
A marca da Sociologia de Florestan Fernandes - importante na formação de alguns decanos dos programas de Antropologia da UnB, como Julio Cesar Melatti e Roque Laraia, além do próprio Roberto Cardoso de Oliveira - também estava presente na formação de Eunice Durham e Ruth Corrêa Leite Cardoso, que vieram a ser, nos anos 1970 e 1980, as principais formadoras na ampla área de antropologia urbana no Brasil - embora, por questões institucionais, trabalhassem nessa época na área de ciência política. Pela orientação de Ruth Cardoso passaram nomes importantes dos programas do Museu Nacional- UFRJ, como Gilberto Velho, Lygia Sigaud e Giralda Seyferth; da Unicamp, como Mariza Corrêa, Guita Debert e Maria Filomena Gregori; e da própria USP, como José Guilherme Magnani. Eunice Durham foi a orientadora, entre outras, de Maria Suely Kofes, Alba Zaluar (então na Unicamp), Paula Montero (então na Unicamp, depois na USP) e Carmen Cinira Macedo (então na PUCSP, depois na USP).
Ao longo dos anos 1980, o Programa de Antropologia Social da USP experimentou ampliação e renovação de quadros nas suas três principais linhas de pesquisa. Houve um enriquecimento nos estudos de etnologia indígena, com Manuela Carneiro da Cunha e Dominique Gallois vindo se somar à atuação de Aracy Lopes da Silva e Sylvia Caiuby Novaes, contribuindo significativamente para o fortalecimento acadêmico e político dessa área de estudos no contexto mais amplo da redemocratização do país. Houve também a diversificação temática da antropologia urbana, sobretudo para questões relacionadas a práticas culturais e religiosas, com Maria Lúcia Montes, José Guilherme Magnani, Carmen Cinira Macedo e Paula Montero, enquanto que Lilia Schwarcz reforçou a temática das relações raciais. Ao mesmo tempo, a segunda metade dos anos 1980 foi atravessada pelo processo de cisão da grande área de Ciências Sociais da USP em departamentos e programas separados de Antropologia, Sociologia e Ciência Política. Na década seguinte, o Programa conviveu com os impactos dessa mudança e com o progressivo estreitamento do seu número de docentes e pesquisadores, em decorrência de perdas, desligamentos, aposentadorias e o número relativamente baixo de recrutamento de novos quadros.
Uma grande renovação aconteceu ao longo da década de 2000, quando vários novos quadros foram incorporados, permitindo não apenas um revigoramento importante das áreas de pesquisas já estabelecidas, como também a consolidação e criação de novas temáticas. Foi no bojo desse processo, que o Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGAS) ingressou no PROEX-CAPES, na avaliação de trienal de 2010, com nota 6.
O PPGAS foi o primeiro programa de pós-graduação a adotar uma política de ações afirmativas na USP, em 2017, que partiu da necessidade de se reconhecer saberes e epistemologias que sofreram um processo contínuo de invisibilização. Essa mobilização se iniciou em outubro de 2013, através de um debate contínuo entre discentes e docentes, com objetivo de implementar Ações Afirmativas para o ingresso em nossos cursos de Mestrado e Doutorado, e resultou na aprovação de uma proposta de ações afirmativas em 2014. O projeto enfrentou um árduo processo de tramitação institucional, e sua implementação pode ocorrer apenas em 2017. Ao longo desse processo, discentes e docentes do Programa puderam contribuir para a discussão sobre ações afirmativas e sua implementação em outros programas de pós- graduação, além de participar do debate sobre a adoção das cotas na graduação da Universidade de São Paulo.
Atualmente o programa conta com seis linhas de pesquisa:
- Cidades, espaços e mobilidades
- Estudos ameríndios
- Estudos africanos e afro-diaspóricos
- Poder e diferença
- Formas expressivas e Regimes de conhecimento
- Antropologia da história / História da antropologia
A diversidade de atuação dos professores e alunos pode ser também aferida pelos vários núcleos de pesquisa e laboratórios, responsáveis por projetos coletivos, financiados por agências nacionais e internacionais. São eles:
- CANIBAL (Grupo de Antropologia do Caribe Global)
- CERNe (Estudos de Religiosidades Contemporâneas e das Culturas Negras)
- CHAMA (Coletivo de Antropologia, Ambiente e Biotecnodiversidade)
- COLETIVO ASA (Grupo de Pesquisa em Artes, Saberes e Antropologia)
- ETNO-HISTÓRIA (Antropologia e História)
- GEAC (Antropologia da Cidade)
- GRAVI (Antropologia Visual)
- HYBRIS (Relações de Poder, Conflitos, Socialidades)
- LETEC ( Laboratório Etnográfico de Estudos Tecnológicos e Digitais _
- NADIR (Antropologia do Direito)
- NAPEDRA (Antropologia, Performance e Drama)
- NUMAS (Marcadores Sociais da Diferença)
- PAM (Pesquisas em Antropologia Musical)
- Religiões, Secularismo e Esfera Pública no Brasil Contemporâneo
Laboratórios de Pesquisa
- LISA (Laboratório de Imagem e Som em Antropologia)
- NAU ( Laboratório do Núcleo de Antropologia Urbana)
Núcleo de Apoio à Pesquisa (NAP)
- CEstA (Centro de Estudos Ameríndios)
A vitalidade da produção do Programa se expressa nas suas publicações, com destaque para revistas científicas. Destaca-se a edição continuada desde 1953 da Revista de Antropologia, solidamente estabelecida e reconhecida na área, tanto no Brasil quanto no exterior; na revista Cadernos de Campo, concebida e editada pelos alunos da pós-graduação desde 1991, e que ocupa lugar destacado entre as publicações nesse domínio; na revista digital Ponto Urbe, do Laboratório de Antropologia Urbana, iniciativa pioneira que teve início em 2007, e na revista GIS - Gesto, Imagem e Som, que agrega os campos da antropologia visual, da música e do som, da performance, do teatro e da arte desde 2016.
Ampliando o trabalho de divulgação científica, outra produção muito relevante que se mantém desde 2015 é a publicação continuada da Enciclopédia de Antropologia.