A estrutura atual da Pós-graduação em Geografia é originária da reforma universitária de 1969. Derivou, portanto, do conjunto de reformas que o Governo Militar implantou no setor educacional do País, produto do Relatório ATCON e dos Acordos MEC/USAID. Essas reformas visaram implantar e padronizar, em nível nacional, um “sistema de Pós-graduação, concebido como seletivo e destinado a formar docentes para o ensino superior e pesquisadores de alto nível”. Essas mudanças foram incorporadas no novo Estatuto da Universidade de São Paulo. A Pós-graduação foi então reorganizada e adquiriu sua forma atual, com dois níveis de formação: Mestrado e Doutorado (USP, 1969; 1972).
O Programa de Pós-graduação em Geografia Física foi criado em 1971, mas as atividades de pesquisa e defesas de tese na Geografia são mais antigas. A primeira tese, intitulada “Santos e a Geografia Humana do litoral paulista”, de Maria Conceição Vicente de Carvalho, foi defendida em 1944. Ainda na década de 1940, cinco professores concluíram o doutorado: Ary França (Estudo sobre o clima da bacia de São Paulo); Nice Lecoq Muller (Sítios e sitiantes); João Dias da Silveira (Estudo geográfico dos contrafortes ocidentais da Mantiqueira) e Renato Silveira Mendes (Paisagens culturais da Baixada Fluminense).
Em 1946 os Departamentos de Geografia e História se separaram e se constituíram como unidades universitárias autônomas. Com a colaboração de professores franceses, os professores recém-titulados na Geografia contribuíram para a construção das bases da Geografia brasileira.
Na década de 1950, outros três doutorados foram defendidos: Elina de Oliveira Santos orientada por João Dias da Silveira, José Ribeiro de Araújo Filho e Aziz Nacib Ab’Sáber, orientados pelo Prof. Aroldo de Azevedo. O XVII Congresso Internacional de Geografia, realizado no Rio de Janeiro, em 1956, foi um marco da transição da fase de formação da Geografia brasileira para aquela em direção à sua afirmação (MONTEIRO, 1980). Um dos reflexos mais relevantes desse evento foi a composição de uma gama de geógrafos pesquisadores já com domínio especializado de seus estudos em Geografia Física.
Em 1963, ocorreu a criação do Instituto de Geografia (IGEOG-USP). Esse ambiente pode ser considerado muito próspero, pois contribuiu na titulação de professores que viriam a ter muita relevância na Geografia brasileira: Pasquale Petrone, orientado pelo Prof. Ary França; Antonio Rocha Penteado, orientado pelo Prof. Aroldo de Azevedo; e Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, orientado pelo Prof. Aziz Ab’Sáber.
A década de 70 também foi marcada por trabalhos muito importantes. Sob a orientação do Prof. Ab’Sáber, foram defendidas as teses de Gil Sodero de Toledo, Olga Cruz e Lylian Coltrinari, enquanto que o Prof. Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro orientou as teses de José Bueno Conti e José Roberto Tarifa; e o Prof. José Pereira de Queiroz Neto orientou as teses de Adilson Carvalho, professor do Instituto de Geociências, e de Renato Herz, mais tarde professor do Instituto Oceanográfico da Universidade.
Novos pesquisadores, novas visões de mundo e novas metodologias estimularam a ciência geográfica, iniciando um movimento que, na década seguinte, ganharia todo o país. Nesse meio tempo, o Programa de Pós-Graduação em Geografia Física manteve um quadro coeso de professores associados ao IGEOG-USP, cujo empenho não sofreu modificações mesmo após a transformação, em 1986, do Instituto em Departamento de Geografia vinculado à antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (CONTI, 2018), atualmente Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Nesse período, diversos doutores da década passada atuariam na Geografia da USP como professores, tendo por orientados outros nomes importantes que seguiriam o legado já atuando no DG-USP. São exemplos as defesas de Magda Adelaide Lombardo, orientada pelo Prof. José Roberto Tarifa, e Maria Elena Ramos Simielli, orientada pelo Prof. José Bueno Conti, professoras atuantes no Departamento de Geografia desde a década de 70. Do mesmo modo, são dignas de nota as defesas de teses de professores e pesquisadores que atuariam em Universidades no país ou em Institutos de Pesquisa, com contribuições ímpares à Geografia Física brasileira: May Christine Modenesi, orientada pelo Prof. Aziz Ab’Sáber; Adyr Apparecida Balastreri Rodrigues, orientada pelo Prof. Mário De Biasi; Archimedes Perez Filho, orientado pelo Prof. Antonio Christofoletti; e finalmente, orientados pelo Prof. Adilson Avansi de Abreu, Dirce Maria Antunes Suertegaray e Jurandyr Luciano Sanches Ross.
Na década de 90, esse cenário não seria diferente, com importantes defesas de doutorado de professores e professoras que atuam até hoje em Universidades, PPGS e Institutos de Pesquisa ao longo do Brasil: orientados pelo Prof. José Pereira de Queiroz Neto, podem ser citadas as Profas. Selma Simões de Castro e Rosely Pacheco Dias Ferreira, além dos Profs. Antonio Manoel dos Santos Oliveira, Fernando Ximenes de Tavares Salomão e Arnaldo Yoso Sakamoto, assim como o pesquisador Márcio Rossi; orientado pelo Prof. Mário De Biasi, o Prof. Flávio Sammarco Rosa; devido à orientação da Profa. Lylian Coltrinari, obtiveram os títulos de doutoras a Profa. Cleide Rodrigues e a pesquisadora Heloisa Ferreira Filizola; por parte do Prof. Renato Herz, a Profa. Teresa Gallotti Florenzano e o Prof. Ailton Luchiari; sob orientação do Prof. Adilson Abreu, a Profa. Iandara Alves Mendes e os Profs. Adler Guilherme Viadana e Antonio Carlos Vitte; e por parte da orientação de José Roberto Tarifa, houve a titulação da Profa. Regina Vasconcellos. Podem ser citadas também as orientações e titulações, respectivamente, de Augusto Humberto Vairo Titarelli e Antonio Carlos Colângelo; de José Bueno Conti e Francisco de Assis Mendonça; de Magda Adelaide Lombardo e João Lima Sant'anna Neto; de Jurandyr Luciano Sanches Ross e Silvio Carlos Rodrigues e Myriam da Silveira Reis Nakashima; de Felisberto Cavalheiro e Lorétti Portofé de Mello; e de Selma Simões de Castro e Luís Beethoven Piló, entre muitas outras.
A partir da década de 2000, muitos doutores vieram a integrar o quadro de docentes de Universidades Estaduais e Federais ou Institutos de Pesquisa no Brasil, dentre os quais: Leonardo José Cordeiro Santos e Francisco Sergio Bernardes Ladeira (orientados pela Profa. Selma Simões de Castro), Bernardo Sayão Penna e Souza, Cláudia Câmara do Vale, José Falcão Sobrinho, Lídia Keiko Tominaga, Fabiano Antônio de Oliveira, Max Furrier, Jader de Oliveira Santos e Moisés Ortemar Rehbein (orientados pelo Prof. Jurandyr Ross), Walter Mareschi Bissa e Jorge José Araujo da Silva (orientados pelo Prof. Andreas Attila de Wolinsk Miklos), Kátia Canil e Esmeralda Buzato (orientadas pela Profa Lylian Coltrinari), Isabel Cristina Moroz Caccia Gouveia, Juliana de Paula Silva e Rodolfo Alves da Luz (orientados pela Profa. Cleide Rodrigues), Emerson Soares dos Santos (orientado pela Profa. Ligia Vizeu Barrozo), e Maria Carolina Villaça Gomes e Tulius Dias Nery (orientados pela Profa. Bianca Carvalho Vieira), entre muitos outros. Diversos doutores integraram o corpo de docentes do DG-USP ou foram credenciados no PPGF como professores orientadores: Sueli Angelo Furlan (orientada pelo Prof. Augusto Titarelli), Tarik Rezende de Azevedo (orientado pelo Prof. Jose Roberto Tarifa), Déborah de Oliveira e Sheila e Aparecida Correia Furquim (orientadas pelo Prof. José Pereira de Queiroz Neto), Luis Antonio Bittar Venturi (orientado pelo Prof. Felisberto Cavalheiro), Yuri Tavares Rocha (orientado pelos Profs. Felisberto Cavalheiro e José Bueno Conti), Fernando Shinji Kawakubo (orientado pelo Prof. Ailton Luchiari), Fernando Nadal Junqueira Villela (orientado pelo Prof. Jurandyr Ross) e Gabriel Pereira (orientado pela Profa. Maria Elisa Siqueira Silva).
Atualmente, de forma a atender as demandas da PRPG-USP e da Capes, o Programa de Pós-Graduação em Geografia Física (PPGF) vem trabalhando nos últimos anos para melhorar cada vez mais suas atividades relacionadas à formação de recursos humanos, desenvolvimento em ciência e amplitude de suas pesquisas à sociedade. Para tal, pode ser destacado seu corpo discente de origem geográfica ampla e contemplada, com 40% de seus alunos com graduação e/ou mestrado formados fora da Universidade de São Paulo, contando com 84 pós-graduandos em que 39 são mestrandos e 45 são doutorandos.
Do mesmo modo, este PPG possui corpo docente altamente qualificado, contando atualmente com 29 docentes credenciados (21 permanentes, 6 colaboradores e 2 visitantes), atuando em 4 linhas de pesquisa (Linha 1 - Informação Geográfica, Tratamento, Representação e Análise; Linha 2 - Estudos Interdisciplinares em Pedologia e Geomorfologia; Linha 3 - Estudos Teóricos e Aplicados em Climatologia; Linha 4 - Paisagem e Planejamento Ambiental), com oferecimento de disciplinas no modo presencial e online. Dos 21 professores permanentes atuais, 15 são vinculados ao Departamento de Geografia da USP, 3 à Unifesp, 1 ao Projeto MapBiomas, 1 ao Instituto Pesquisas Ambientais da Secretaria do Estado de São Paulo e 1 à Universidade Federal de São João Del Rei. Desses 21 docentes, 18 orientam em níveis de mestrado e doutorado e 3 apenas em nível de mestrado. Cinco docentes são titulares, 2 são livre-docentes, 10 fizeram pós-doutorado e 05 defenderam o Doutorado há menos de 10 anos; 7 são pesquisadores bolsistas de produtividade e pesquisa do CNPq (níveis 2 e 1D), além de todos possuírem títulos de Doutorado.
Nesse cenário, pode ser destacado que o PPGF tem concentrado esforços na elaboração de um projeto de pesquisa amplo e integrador, para incluir a maior parte de docentes do corpo permanente e aumentar o aporte de recursos financeiros, criando assim mais oportunidades para envolver o corpo discente, inclusive com o aumento dos intercâmbios nacionais e internacionais. Além disso, é prática enraizada no Programa o aprimoramento da formação dos discentes, a partir de uma estrutura curricular em quantidade e qualidade adequadas para garantir sólida formação teórica e metodológica, assim como garantir a permanência dos pós-graduandos segundo uma política de ações afirmativas com a adoção de cotas e editais/processos seletivos bilíngues e remotos. Por fim, pode ser citado que o PPGF busca sempre aumentar e estimular a internacionalização por meio de diversas atividades, assim como proceder conforme metodologia adotada desde sua fundação para o acompanhamento de egressos.
REFERÊNCIAS
CONTI, J. B. A contribuição da Geografia da Universidade de São Paulo para a construção da Geografia Brasileira. Boletim Paulista de Geografia v. 100, 2018, p.85-95.
MONTEIRO, C. A. F. A geografia no Brasil (1934-1977): avaliação e tendências. São Paulo: Universidade de São Paulo, Instituto de Geografia, 1980.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Estatuto da Universidade de São Paulo 1969. São Paulo: USP, 1969. Disponível em: https://leginf.usp.br/?historica=decreto-no-52-326-de-16-de-dezembro-de-1969 .Acesso em: 16 Ago. 2024.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Regimento geral da Universidade de São Paulo de 1972. São Paulo: USP, 1972. Disponível em: https://leginf.usp.br/?historica=decreto-no-52-906-de-27-de-marco-de-1972 . Acesso em: 16 Ago. 2024.