O Programa de Pós-Graduação em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-Americana (PPG-LELEHA) está vinculado à Área Didática de Espanhol do Departamento de Letras Modernas que, desde 1970, mantém uma das habilitações específicas mais antigas do país e é, ainda hoje, no âmbito da universidade pública brasileira, a que mais vagas anuais oferece para bacharelado e licenciatura nessa língua e suas literaturas.
Em consonância com esse histórico e com essa realidade, o Programa tem sido protagonista na implantação dos estudos hispânicos e hispano-americanos na pós-graduação brasileira. Inicialmente, a Literatura Espanhola e a Literatura Hispano-Americana foram as únicas duas especialidades da pós-graduação que, em 1977, credenciaram seu programa de mestrado para depois, em 1986, dar início ao doutorado. A partir da década de 1990 foi se desenvolvendo o campo dos estudos linguísticos, com a criação de linhas de pesquisa específicas em Língua Espanhola. Finalmente, em 2000, os Estudos de Tradução integraram-se a esse conjunto de linhas de pesquisa de pós-graduação.
É importante salientar que o Programa de Pós-Graduação LELEHA continua sendo a única pós-graduação, em território brasileiro, com o perfil dessas quatro especialidades: Língua Espanhola, Estudos Tradutológicos e Comparados, Literatura Espanhola e Literatura Hispano-Americana. A composição do corpo docente responde à especificidade de cada uma dessas áreas e, desde as origens do Programa, tem se dedicado integralmente ao desenvolvimento da pesquisa e à formação de estudantes nesses campos. Isto tem permitido aprofundar os estudos em cada uma dessas quatro especialidades mantendo um alto nível de excelência e propiciando simultaneamente o intercâmbio e a interação entre todas elas.
Se considerarmos a localização geopolítica do Brasil, esta especificidade constitui um traço diferencial do Programa de singular valor no âmbito da pós-graduação nacional, na medida em que permite estabelecer perspectivas epistemológicas abertas ao diálogo entre línguas, literaturas e culturas que se desenvolveram historicamente em relação de vizinhança (espanhol/português; Brasil/América Hispânica; Espanha/Portugal). Essa proximidade tem sido um fator fundamental no interesse dos alunos brasileiros em se especializar nesse campo de estudos; interesse estimulado, em alguns períodos, por políticas públicas regionais, como foi o caso dos acordos do Mercosul na década de 1990 ou a promulgação, em 2005, da Lei 11.161 do ensino da Língua Espanhola na escola brasileira, hoje vigente em alguns estados do país. Ao longo dos seus 47 anos de existência, o Programa formou 267 alunos em nível de mestrado e 133 em nível de doutorado. Cabe destacar que, do total de mestres e doutores formados, 65 foram estrangeiros que optaram por se especializar em estudos hispânicos em âmbito universitário brasileiro. Atualmente, 26 alunos cursam seus estudos de mestrado e 29 realizam suas pesquisas de doutorado (4 alunos são estrangeiros).
Essas cifras evidenciam não só o interesse dos brasileiros em se especializar nesse campo de estudos, mas também o prestígio nacional e internacional que atingiu o desempenho do corpo docente, tanto no trabalho de formação que levaram adiante em todos esses anos, quanto na excelência de uma produção científica especializada. Destacamos, nesse sentido, as pesquisas sobre as vanguardas literárias latino-americanas realizadas por Jorge Schwarz (Vanguarda e cosmopolitismo, 1983; Vanguardias latinoamericanas. Textos programáticos y críticos, 1991); os estudos sobre a literatura picaresca espanhola que levou adiante Mario González (O romance picaresco, 1988; A saga do anti-herói, 1994); as pesquisas sobre o barroco e neobarroco hispano-americano de Irlemar Chiampi (O realismo maravilhoso. Forma e ideologia no romance hispano-americano, 1980); os estudos sobre a literatura espanhola de pós-guerra que realizou Valeria de Marco (Edição, introdução e notas a Max Aub. Campo francés, 2008); os estudos sobre a obra literária de Miguel de Cervantes que levou adiante Maria Augusta da Costa Vieira (A narrativa Engenhosa de Miguel de Cervantes: Estudos Cervantinos e Recepção do Quixote no Brasil, 2012); as pesquisas no campo dos estudos linguísticos contrastivos espanhol/português de Neide Maia González (Cadê o pronome? O gato comeu. Os pronomes pessoais na aquisição/aprendizagem do espanhol por brasileiros adultos, 1994). Atendendo à história do Programa, mencionamos os estudos mais relevantes realizados por docentes que contribuíram de forma decisiva na configuração inicial das linhas de pesquisa da pós-graduação. Trata-se de uma produção científica pioneira e de alto impacto, que não só abriu novos campos de estudo no país, mas que se esforçou por estabelecer perspectivas comparadas com os estudos linguísticos, literários e culturais brasileiros. Em todos os casos e para além dos títulos escolhidos, essa produção científica tornou-se referência bibliográfica imprescindível nos cursos de Letras das universidades do Brasil e do estrangeiro.
Dando continuidade a essa produção científica de excelência, atualmente, o Programa conta com a participação de 14 professores que inscrevem seu trabalho nas seguintes linhas de pesquisa:
- Estudos sobre funcionamento linguístico, aquisição, ensino e aprendizagem da língua espanhola
- Problemáticas estéticas e debates críticos na literatura latino-americana
- Formas e processos na literatura espanhola
- Estudos tradutológicos, comparados e de processos interculturais
O compromisso com uma permanente atualização teórica e metodológica que responda às mudanças epistemológicas das áreas de especialização e, também, aos debates de ordem social, política e cultural que marcam a cena contemporânea, norteia a definição dos diversos projetos que os professores e as professoras do Programa articulam nessas linhas de pesquisa. Estudos sobre práticas discursivas contemporâneas marcadas pelo conflito político no espaço público; sobre normas, estratégias e registro de análise de corpora de tradução; sobre tendências teóricas e metodológicas no ensino e aprendizagem do espanhol em contextos brasileiros; sobre glotopolítica, legislação e direitos linguísticos, são alguns dos campos de indagação que se oferecem para a pesquisa em mestrado e doutorado na área dos estudos linguísticos e de tradução. No que diz respeito aos estudos em Literatura Espanhola e Literatura Hispano-Americana, em linhas gerais, os projetos abrem horizontes de pesquisa sobre processos históricos de configuração dessas literaturas; relações entre formas estéticas e práticas discursivas; diálogos da literatura com outras linguagens artísticas e/ou outros discursos sociais (político, histórico, jornalístico, etc.); relações entre literatura e instâncias culturais de pertencimento e alteridade; processos de recepção das literaturas em língua espanhola no Brasil; instâncias de constituição de perspectivas críticas e teóricas específicas dessas literaturas e, certamente, estudos de poéticas particulares de diferentes períodos. As dissertações de mestrado e teses de doutorado defendidas nos últimos anos transitaram por essas linhas de indagação, contribuindo para enriquecimento da reflexão teórica e crítica em torno das línguas e literaturas estrangeiras no Brasil. No mesmo sentido, cabe mencionar a significativa contribuição que, há mais de uma década, vem realizando a revista Caracol, periódico semestral do Programa, muito bem avaliada pelo Journal Citations Impact Factor Report (2.17) e incorporada aos indexadores MLA, SCOPUS, Redalyc, dentre outros.
Desde a sua criação, o Programa busca formar profissionais altamente qualificados nessas áreas de especialização, com vistas a contribuir para a projeção dos estudos hispânicos em âmbito nacional e internacional. Apesar de não se tratar de um Programa de grandes dimensões, é possível afirmar que, ao longo dos anos, ele consolidou uma posição estratégica, tanto no que tange às relações do Brasil com os demais países latino-americanos, quanto aos diálogos constantes entre o Brasil e a Espanha. Cabe mencionar, nesse sentido, que o Programa tem convênios assinados com universidades da Argentina, Peru, Chile e Espanha, e que vários de seus egressos são atualmente docentes e pesquisadores em universidades estrangeiras, tais como a Universidad de Buenos Aires (Argentina), a Universidad de La República (Uruguai), a Universidad Nacional de Colombia (Colômbia), a Universidad de Antioquia (Colômbia), a Universidad del Cauca (Colômbia), a Rice University (EUA) e a Goldsmiths University of London (Inglaterra).
Não obstante, é a projeção nacional do Programa que tem adquirido indiscutível relevância com o passar dos anos, devido à inserção dos seus egressos em outras universidades do país. Dessa forma, o Programa tem contribuído significativamente na organização e consolidação dos cursos de Letras/Espanhol em instituições públicas de ensino superior, tais como: Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Nacional de Brasília (UNB), Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Federal de Sergipe (UFS), Universidade Federal da Paraíba (UFPA), Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade Estadual Paulista (UNESP), Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e Universidade da Integração Latino-Americana (UNILA), para mencionar apenas algumas delas.
Por outro lado, não é menos importante o impacto cada vez maior que o Programa vem exercendo na irradiação do Hispanismo no Brasil, através da inserção dos egressos em diversos campi de Institutos Federais (Bahia, Paraná, Triângulo Mineiro, São Paulo, Rio Grande do Sul), em escolas públicas e privadas, bem como em diversos meios de comunicação, instituições culturais e mercado editorial, estimulando assim a expansão dos diálogos com o mundo hispânico, sem deixar de atender à heterogeneidade cultural que esse vasto conceito comporta.